A partida deste domingo(20), envolvendo Flamengo e Bahia foi recheada de gols e confusões. O rubro-negro saiu na frente, abriu dois gols de vantagem, sofreu a virada do Bahia em 13 minutos e depois passou a ficar à frente novamente. No entanto, um lance lamentável melou a grande partida que as equipes fizeram. Gerson, do Flamengo, acusou Índio Ramirez, do Bahia de racismo. O zagueiro Paulão, do Fortaleza concedeu entrevista e falou sobre o caso após derrota para o Ceará, no Castelão.
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– É muito difícil. Mais uma vez complicado falar sobre isso. Passou da infantilidade, da pequenez. A gente não se posiciona diante de muitas coisas, agora que a gente está se posicionando diante do racismo. Dentro do futebol brasileiro, onde há uma mistificação muito grande, uma pandemia acontecendo, a gente vai ligar para coisas pequenas, como o fato de falar com o outro por conta de uma situação de cor? Ele é um idiota. Digo que é um idiota por agir dessa forma -, disse ele em entrevista ao Esporte Interativo.
– É tanta briga, tanta dor, sofrimento, para agora no jogo, no momento que a gente se desliga do mundo […] Eu não consigo entender o que passa na cabeça, ainda mais na Bahia, onde eu moro, e a maior parte das pessoas são negras. É muito difícil falar sobre isso. Gerson, passo meu apoio, irmão. Estamos juntos, a cor é forte -, completou na sequência.
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Assista o vídeo da fala do zagueiro do Fortaleza:
Além de Paulão, outros jogadores e vários clubes se manifestaram sobre o acontecido.
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Veja abaixo o que postou o Vasco:
Nos solidarizamos com o atleta Gérson em mais um relato inaceitável de racismo no nosso futebol. Esse tipo de luta está acima de qualquer rivalidade.
— Vasco da Gama (@VascodaGama) December 20, 2020
Que seja apurado com rigor. Não podemos tolerar esse tipo de atitude!#RacismoNão ✊🏿
O São Paulo, também postou um apoio ao meia do Flamengo:
O São Paulo Futebol Clube manifesta apoio ao meia Gerson, do Flamengo. Toda e qualquer conduta racista dentro do futebol deve ser exposta e combatida. Nenhuma voz deve se calar.
— São Paulo FC (@SaoPauloFC) December 21, 2020
Não basta não ser racista. É preciso ser antirracista.#RacismoNão
Palmeiras também:
Nos solidarizamos com o atleta Gerson, do Flamengo, e reforçamos que atos como esse de racismo e qualquer tipo de preconceito são inadmissíveis. Condenamos veementemente atitudes como esta dentro e fora dos campos.#RacismoNão
— SE Palmeiras (de 😷) (@Palmeiras) December 21, 2020
Grêmio:
Lamentamos muito o ato de racismo sofrido pelo atleta Gerson, na noite de hoje. Não podemos normalizar estas atitudes, por mais que nos digam para nos calarmos. Esta luta não tem cor, não tem time e não tem religião, somos um só. #ClubeDeTodos #ChegaDePreconceito ✊🏿
— Grêmio FBPA (@Gremio) December 21, 2020
Cruzeiro:
Recentemente, um caso de racismo na Champions League e outro contra um menino de 11 anos. Hoje, mais um no Campeonato Brasileiro. Não dá mais. Nossa solidariedade ao Gerson, atleta do @Flamengo e a todos aqueles que sofrem diariamente o peso das atitudes racistas.#RisqueORacismo
— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) December 21, 2020
O meia do Flamengo também postou uma nota nas redes sociais. Veja o texto da íntegra:
“Amo minha raça e luto pela cor.”
O “cala boca, negro” é justamente o que não vai mais acontecer. Seguiremos lutando por igualdade e respeito no futebol – o que faltou hoje do lado contrário. Desde os meus 8 anos, quando iniciei minha trajetória no futebol, ouço, as vezes só por olhares, o “cala a boca, negro”. E eles não conseguiram. Não será agora.
“Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Não adianta ter o discurso, fazer campanha, e não colocar em prática em todos os aspectos da vida, inclusive dentro de campo. O futebol não é algo fora da sociedade e um ambiente onde barbaridades como o “cala a boca, negro” podem ser aceitas.
É uma pena nós, negros, termos que falar sobre isso semanalmente e nenhuma atitude no esporte ser tomada a respeito. E é mais triste ainda ver a conivência de outras pessoas que estão dentro de campo e que minimizaram e diminuíram o peso do ato de hoje no Maracanã. É nojento conviver com o racismo e ainda mais com os que minimizam esse crime.
Não vou “calar a minha boca”. A minha luta, a luta dos negros, não vai parar. E repito: é chato sempre termos que falar sobre racismo e nada ser feito pelas autoridades.
Racismo é crime. E deve ser tratado desta maneira em todos os ambientes, inclusive no futebol.
Não me calaram na vida, não me calaram em campo e jamais vão diminuir a nossa cor.
Vale destacar que no Brasil, racismo é crime previsto na LEI Nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que prevê punição para casos resultantes de discriminação ou preconceiro de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com pena que projeta reclusão de dois a cinco anos.
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