Apesar da confirmação do domínio brasileiro nas duas principais competições continentais, a Conmebol considera como impossível a redução de vagas para o Brasil ou qualquer mudança de regulamento no momento com objetivo de criar dificuldades para os times do país na Libertadores e na Sul-Americana.

Com dobradinha nas finais das duas competições, o futebol brasileiro já sabe que enviará nove representantes à Libertadores em 2022 — sete deles com vaga direta na fase de grupos. Na Sul-Americana, outros seis times se encaixam, formando um cenário no qual só cinco dos 20 que disputam a Série A do Brasileirão não terão compromissos continentais ano que vem — quatro deles serão rebaixados, inclusive.

Mas o quadro de domínio brasileiro ainda não faz o comando da Conmebol repensar o modelo atual, embora haja incômodo nos vizinhos, como mostrou o colunista Marcel Rizzo, em agosto.

O ponto é que desde a expansão da Libertadores, em 2017, o título tem se revezado entre Brasil e Argentina. Os dois países, inclusive, sempre povoam as fases de mata-mata da competição. Mas o Brasil deu um salto nos últimos três anos, porque chegará ao terceiro título continental consecutivo, com a decisão entre Flamengo e Palmeiras.

Em 2021, o domínio atingiu outra esfera, já que Red Bull Bragantino decidirá a Sul-Americana com o Athletico. Ou seja, o Brasil abocanhou espaço até no segundo escalão. Na Sul-Americana, inclusive, a Conmebol estreou neste ano um novo formato, com fase de grupos.

Quando a Conmebol aumentou o número de participantes nas duas competições foi pensando também em ampliar receitas. Economicamente, o Brasil é o mercado mais significativo do continente, em que pese a crise financeira atual. Os argentinos também não passam longe de percalços econômicos, o que se reflete no poderio para montar as equipes para as disputas continentais.

O enfraquecimento de lá se combina ao fortalecimento de alguns clubes daqui. Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG se notabilizam pelo investimento alto nos seus elencos. Em escala menor, Athletico e Red Bull Bragantino — com modelos e estratégias diferentes — também respiram com folga.

O contexto todo tem retroalimentado os cofres dos clubes brasileiros. Dos US$ 168,3 milhões (R$ 916 milhões, na cotação atual) que a Conmebol repartirá, ao todo, entre os clubes da Libertadores, US$ 57,8 milhões (R$ 314,6 milhões) ficarão exclusivamente com quem chegou ao mata-mata: neste ano, seis dos 16 foram brasileiros. Olhando as semifinais, três de quatro times. Só na final, o campeão leva US$ 15 milhões (R$ 81,6 milhões), enquanto o vice fica com US$ 6 milhões (R$ 32,6 milhões).

Na Sul-Americana, a Conmebol distribui US$ 58,9 milhões (R$ 320 milhões), ao todo. O campeão, só pela vitória na decisão, coloca mais US$ 4 milhões na conta (R$ 21,7 milhões). O vice, US$ 2 milhões (R$ 10,8 milhões), além dos valores acumulados em outras fases.