João Saldanha disse certa vez que “ninguém é filho de chocadeira”. Em suma, todos nós que trabalhamos com o futebol temos nossos times, afinal, como alguém se aproximaria de tal forma do jogo sem uma paixão?
O mestre era botafoguense, nem por isso deixava de criticar a estrela solitária. Quando garoto, aos 9, 10 anos, já sonhava com o jornalismo e com o futebol. O rádio era o maior companheiro e homens do microfone, como ele, inspiração. Amor por certas cores, mas antes com respeito e paixão pela profissão.
Cresci nas arquibancadas dos estádios. E nem todos os jogos eram do meu time. Um de meus melhores amigos, alvinegro como Saldanha, conheci na geral do nosso Maracanã. Jogavam América e Guarani naquele 20 de abril de 1980, vitória do time de José Trajano por 1 a 0, gol assinalado por Neca.
Usufrui ao máximo minha vida de torcedor, tive a sorte de ver todos os títulos possíveis e pude viajar pelo país atrás de uma camisa. Quando, na faculdade, sonhava com o jornalismo esportivo e me preparava para uma espécie de ruptura.
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Acreditava que seria capaz de neutralizar totalmente a emoção pela razão por causa da profissão. Estava errado. Ninguém é capaz. Podemos, sim, ser honestos nas análises e criticar fortemente nossos próprios clubes quando pertinente. Contudo, por mais que fale e escreva com isenção, o coração seguirá batendo mais forte por ele.
Um fetiche de quem acompanha jornalistas esportivos é saber os times dos profissionais. Há alguns anos todos sabem o meu. Isso tem um preço: parte dos torcedores dos demais clubes passam a te rotular, independentemente do que fale, do que escreva. Mas como esses são apenas tolos ou biltres, os ignoro. Não trabalho para tais elementos.
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Quando um treinador faz mal trabalho, crítico. Seja do meu time ou dos demais. Aconteceu isso neste ano no campeão paulista, por exemplo. Se fosse agir desonestamente, o elogiaria de maneira cínica para que um elenco forte seguisse mal treinado. Em teoria isso seria ótimo para o meu time, que como se sabe, não é de São Paulo.
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No ano passado foi assim com o clube pelo qual torço. E a mudança de treinador foi fundamental para acertar o rumo e alcançar as conquistas tão esperadas. Profissionalmente, é ótimo constatar que a análise foi correta, como em 2019.
Quando o meu time joga mal, crítico. Quando o árbitro erra a seu favor, digo. Quando o jogador que veste a camisa falha, não perdoo. Quando o dirigente não trata como deveria funcionários ou familiares de vítimas de uma tragédia no clube, registro, volto ao tema frequentemente e crítico. Favor algum. Esse é o nosso trabalho.
Mas a paixão pelas cores é para sempre. Você pode desenvolver uma capacidade de ser crítico, direto e frio ao analisar o time que faz parte da sua vida e de pessoas queridas. Mas continuará apaixonado pela camisa, irá se emocionar e terá que seguir trabalhando, ganhe ou perca. E nas vitórias sem direito a comemorar como os demais, porque não haverá tempo tão cedo para isso.
Foi o que aconteceu comigo em 23 de novembro de 2019 na cidade de Lima, no Peru. Lá cobri um dos jogos mais espetaculares da história. E hoje ele completa um ano. Nenhum de nós voltou de lá sendo a mesma pessoa. Voltamos melhores! Futebol, a melhor invenção do homem. Libertadores, a Glória Eterna. Saudações!