O Presidente do Conselho de Administração (CoAde) do Flamengo, Bernardo Amaral, acatou o pedido de efeito suspensivo ao recurso do ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello e suspendeu a decisão que determinava a perda de seus direitos políticos por 90 dias. A defesa do ex-dirigente sustentou que há nulidades na decisão e que não houve violação ao estatuto do Clube.
Na decisão de suspensão, ficou determinado que o futuro do ex-presidente será votado pelos integrantes do Conselho Deliberativo. No último dia 16, Bandeira de Mello foi punido por declarações referentes ao incêndio no Ninho do Urubu que causou a morte de 10 jogadores da base. Com maioria de apoiadores da atual gestão, o CoAde suspendeu o ex-presidente do quadro de sócios do clube por 90 dias, o que acarretava também em punição que o impedia de participar das eleições para presidência pelos próximos cinco anos.
Com a suspensão, o ex-dirigente volta a estar apto a votar e concorrer às próximas eleições, que serão realizadas no fim deste ano. Embora tenha resgatado o direito de ser elegível, ele já manifestou que não pretende disputar o comando do clube neste pleito.
“Num processo com motivação política, fui punido por crime de opinião. Tenho orgulho de estar do lado oposto ao deles. Vou recorrer da decisão e tenho certeza que em dezembro estarei na Gávea para votar no meu candidato”, disse após a condenação no último dia 16.
A sessão que puniu Bandeira contou com a presença de adversários políticos de Bandeira na atual gestão, como Rodolfo Landim, BAP e Gustavo Oliveira. Membro nato do Conselho, Marcos Braz também esteve presente e foi responsável pelo hasteamento da bandeira no início do evento. O grupo de vices, que tinha também Gustavo Fernandes e Arthur Rocha, tirou licença do cargo para votar a favor da punição.
Entenda a denúncia
A denúncia contra Bandeira foi feita em maio, pelo grupo político “Vanguarda Rubro-Negra”, depois de o ex-presidente afirmar ter “quase certeza” de que o incêndio no Ninho do Urubu, que vitimou 10 jogadores da base, não aconteceria se ele ainda fosse o presidente do clube.
O pedido se baseia em dois artigos do estatuto rubro-negro:
24, parágrafo XI: “Abster-se de usar qualquer meio de comunicação para veicular expressões desonrosas contra o FLAMENGO, ou os membros de seus Poderes, em campanha eleitoral, ou em razão de suas funções;”
49: “Veicular expressões desonrosas, por qualquer meio de comunicação, contra o FLAMENGO, ou os membros de seus Poderes, em campanha eleitoral, ou em razão de suas funções.”
O artigo 49 prevê duas punições: suspensão por até 360 dias ou eliminação do quadro social.
A polêmica começou quando Bandeira, em entrevista ao jornalista Jorge Nicola, afirmou ter “quase certeza” que o incêndio não ocorreria se ele ainda fosse presidente. Depois da repercussão, ele explicou dizendo que havia a previsão para os meninos da base deixarem os contêineres na virada de 2018 para 2019.
– Se eu ainda fosse presidente, tenho quase certeza que não teria acontecido o incêndio. Fiquei lá seis anos e não aconteceu nada. O que aconteceu ali, eu já não estava mais lá, e sinceramente não sei qual foi a causa. Mas espero que o MP chegue à verdade. Porque é muito desagradável se ter inocentes sendo acusados de maneira totalmente injusta. Um deles sou eu – disse Bandeira.
A declaração resultou numa nota oficial do Flamengo, assinada pelos presidentes de poderes do clube, rebatendo as declarações de Bandeira.
A gestão atual, de Rodolfo Landim, explica que não transferiu os jovens pois aguardava chegada de mobiliário, como camas e colchões.
Manifesto
Apoiadores de Bandeira organizaram um manifesto com cerca de 300 assinaturas em que pediam a absolvição do ex-dirigente. Em um trecho do documento publicado, o grupo apontava para o risco de perda de liberdade de manifestação no clube e pela imprensa:
“Uma Instituição como o Flamengo prestes a conspurcar dois pilares do Estado Democrático de Direito: a livre expressão do pensamento e a livre atuação da imprensa”.